Thursday, March 30, 2006

Dante's Inferno Level 10...

Ontem fui ao médico. Cheguei ao centro de saúde às 8:30 e saí às 12:45. A parte que me chateou não foi estar lá tanto tempo... foi o que eu tive de aturar. Depois de tirar uma senha, demorou meia hora até ser atendido, só para confirmar a consulta. Tubo bem, o pior veio a seguir. Subi para o andar de cima, local onde se situava o consultório com a respectiva sala de espera ao lado. Espreitei para dentro da sala de espera... havia alguns lugares vagos... mas não entrei, pois sabia o que me esperava. Decidi ficar no corredor. O tempo foi passando e, surpresa das surpresas, a médica não chegou a horas! No fim da primeira hora já tinha contado todas as pedrinhas da parede, elaborado um relatório mental de quantas vezes a funcionária daquele (bem gira) andar tinha entrado e saído do elevador, feito um pequeno e improvisado jogo da macaca nos quadrados pretos e brancos do chão (sem que ninguém me visse, claro!) e lido todos os posters de informação médica que estavam na parede pelo menos 4 vezes... e já estava a ficar cansado de andar para trás e para a frente. Voltei a olhar para a sala de espera... ainda havia lugares vagos e estavam todos em silêncio... Entrei para me sentar um pouco mas estava consciente de que me ia arrepender profundamente. Dirigi-me ao lugar mais isolado da sala e sentei-me. Até aqui tudo bem... ninguém me dirigiu a palavra. Num piscar de olhos reparei que era a pessoa mais jovem da sala... 'Bolas! Isto vai doer!' pensei eu. Cruzei os braços, encostei a cabeça à parede e fechei os olhos numa tentativa de estacionar algures entre o acordado e o a dormir. Maravilha! 15 minutos de silêncio, paz, sossego e reflexão sobre a vida... até que entrou uma senhora com um bebé. Pronto! O rastilho estava aceso. Houve logo uma velhota que começou logo a brincar com o bebé e a falar com a mãe. Uma outra velhota comentou que a criança era parecida com o seu neto e em menos de 1 minuto estavam todos a falar uns com os outros. "Ai, e eu já tive esta doença, e aquela e a outra!", "Ai, a minha irmã está na América e aquilo lá é muito melhor que aqui!", "Ai, o Doutor X é muito melhor que o Doutor Y!", "Ai, uma pessoa vem para aqui cedíssimo e mesmo assim sai daqui tardíssimo!", "Ai, eu tinha uma consulta para o dia X e depois foi adiada para o dia Y e depois para Z!", "Ai, eu estive muito mais doente do que tu!", "Ai, a fulana X da telenovela Y fez XPTO ao coiso!"... Se estavam lá 20 pessoas, haviam 10 conversas diferentes. Fiz tudo para que não falassem comigo mas era inevitável... "Você também está para a Doutora X?"! "Mas que mal fiz eu para merecer isto?!" pensei eu! Mandei-lhe um "Estou!", levantei-me e voltei para o corredor. Tinha que me desviar de cada vez que alguém queria passar, não me podia sentar, não tinha nada com que me distrair, já não tinha o silêncio do inicio e a única lâmpada fluorescente estava com tiques... mas mesmo assim, comparado com aquela sala de espera, aquele corredor parecia-me agora um inferno bem mais tolerável!... The end.

4 comments:

António said...

O sabermos que vamos encontrar comunicação leva-nos à misantropia. E pensar que os nosso antepassados lutaram pelo contrário disso...

PDA said...

Vai-se ao médico e sai-se de lá pior. Se não for da própria doença, é de outra coisa qualquer...

Rice Man said...

Nada de grave FunnyBunny!...

Yashmeen said...

Da próxima vez, leva o "Guerra e Paz"...